30 maio 2006

Poeta de rua

O poeta da minha rua chamava-se Elias, vestia de linho preto tingido na Ponte do Rato e balouçava ao vento o cachimbo por entre as apostas jogadas nas arcadas do Pelourinho. Tempos idos de riqueza gasta em mulheres fáceis e em jogo no clube de empresários. A pose manteve-se até ao dia em que também os operários começaram a subir ao Pelourinho, todos os sábados, para as compras na Praça, usando as suas viaturas compradas por empréstimo. Aí o verniz estalou, o proletariado ultrapassou o mestre, pois apesar de não calçar um sapato de verniz, nem tão pouco vestir um fato de linho acabado de passar, já galgava os paralelos, em veículos elegantemente calçados. A diferença entre o ser e o parecer tornou-se ténue e apagou da memória a figura ilustre do poeta Elias que, em silêncio, continua a cantarolar as árias dos tempos idos sobre as memórias inapagáveis da burguesia falida da cidade lã.

52 comentários:

Menina Marota disse...

"Aí o verniz estalou..." como em tanto outros casos, infelizmente...

Goste de ler-te

boa semana ;)

Anónimo disse...

Não é um verniz,por mais cintilante que seja, que esconde a essência do ser. Gostei. Abraço meu.

Anónimo disse...

Gostei do blog!
Gostaria de ter o seu link, mas no meu blog são as visitas que se linkam! Se for da sua vontade, vá até ao amar-ela e clique no logotipo do "Páginas Amar-ela", para adicionar o seu blog na categoria da sua preferência.
Um abraço amigo,
Daniela

musalia disse...

a eterna dicotomia entre ser e parecer...a essência e a única coisa que emnós permanece...

beijos:)

Helder Ribau disse...

É optimo ter um parceiro que escreve... tão bem... tudo o que sente... É tudo aquilo que sente... que o torna singular...

Um abraço muitoooooooo forte

Helder

Kalinka disse...

HELDER RIBAU
Vim cá visitar o teu espaço, pois um dia destes, encontrei-te no meu kalinka, e foi uma surpresa muito agradável. Fiquei super Feliz...
Esta música é lindaaaaaaaa de morrer: Because of You.
Quero ficar aqui, ouvindo a canção e, explorando este teu espaço que não conheço ainda, mas vou voltar, para o ver com carinho e tempo.
Obrigado pelas tuas palavras.
Beijokas.

Giorgia disse...

Ler-te tornou-se viciante... e' tao bom passar ao fim do dia pra levar na pele as palavras, as historias, os contos... e vou continuar a passar, como o poeta Elias continuou a cantarolar...

beijokas grandes

Maria disse...

Muito bom.

Pitucha disse...

Bonito.
Parabéns.

Poesia Portuguesa disse...

Passei para ler-te, no sossego desta manhã...

"... de poeta e louco, todos temos um pouco..."

...agora, quando o verniz estala, é outra coisa...


Gostei de ler-te.

Um abraço ;)

sofyatzi disse...

É sempre muito agradável passar por aqui. Como sempre...lindo! ;)

saisminerais disse...

Estimado João
Afinal o tempo não para! O mundo evolui e um dia o que foi já era.
O verniz estala todos os dias em pontos diferentes mudam-se os costumes e mudam-se as gentes...
Foi bom ler-te, parabens pela maneira como escreves demonstras um espirito aberto. Um olhar atento do mundo à nossa volta.
Deixo um abraço e o desejo de continuação, porque vale a pena ler-te

Anónimo disse...

Visitaste-me na soc. dos antónios e automáticamente atraíste-me a este espaço que me agradou bastante, pela sensibilidade, simplicidade e qualidade da escrita. Só não gosto da verificação de palavras, mas isso é um problema da minha disléxia, fará com que leia mais, do que comente.
Parabéns pelo blog

Abr.

kikas disse...

Quando o verniz estala, é dificil recuperar, ou entao muito tem que se fazer para tal.Gosto bastante de te ler

Paula disse...

Gostei do blog... e deste último texto, muito bonito e muito bem escrito

EuMulher disse...

"Ser ou não ser?" É um questão há muito conhecida... hoje no entanto além desta outra se põe: "Ser ou parecer?" O ser humano sempre viverá de questões... a dualidade sempre existiu...Gosto do que escrevem Parabens...Se um dia quiserem... também teria muito gosto em recebê-los no meu cantinho.

Sole.- disse...

Me encanta como escribes, ahora puedo entender tus ecritos mucho mejor, encontre un traductor jajajaja
Beshotes muchitos para ti!!!!
Por cierto muy lindo post.-

Luna disse...

A poesia sempre estara presente nos corações simples
bjs

Fragmentos Betty Martins disse...

Olá João

Estou de volta! Pelo menos até Julho.

Obrigada pela visita, na minha ausência.

Adorei o teu "Poeta de rua" da forma de como "pinta" as palavras.

Convido-te a ir até ao "fragmentos" iria adorar ver-te por lá :)

Beijinhos

Fragmentos Betty Martins disse...

Agora reparei; foi o Helder que me visitou e foi o João que deu "vida" ao "Poeta de rua"

Então o convite fica para os dois :))

Beijinhos....para os dois.

Titá disse...

Comovi-me. Adorei!
Bjs

Anónimo disse...

:) gostei

Maresi@ disse...

Vim retribuir tua visita ao meu Blog e ver tua postage nova...linda hem?
As palavras saem espontaneamente e torna se tudo poesia...gostei e virei mais vezes
Tenho postagem nova. deixo aqui convite...
beijo com sabor a Maresi@

Alma de Poeta disse...

Li e gostei, Deixo o meu incentivo para que continues a publicar bons textos. Abraço amigo

Raelma Mousinho disse...

Gostei, Sr. João Leitão =) melancólico de uma beleza não óbvia =)
gostei...
beijo
Rah

Maria Carvalho disse...

Um belo texto.

Rosmaninho disse...

Parece-me que conheço este poeta ;)ou então... é muito parecido com o poeta que vive numa rua, perto da minha...

~*Um beijo*~

P.S. O vosso "trabalho em parceria" é excelente!

Sendyourlove disse...

Mais vale sê-lo do que parecê-lo...
Mas hoje vivesse de aparências.
Gostei muito, muito bem escrito.

Light disse...

Soberbo este teu texto...

Beijo

Anónimo disse...

Olá joão! Por mais camadas de verniz k se usem nem sempre se consegue disfarçar imperfeições... o mal da nossa sociedade é se continua a usar mto verniz em certos casos, mas o resultado está aí...à vista de todos. Um bj Bfsemana. Grande música!

Anónimo disse...

Fantástico!!!
Se quiseres um quarto eu alugo para ter o poeta dentro de casa...

della-porther disse...

Muito lindo mesmo.
Maravilhosa a foto e o texto incrível.
Beijos

Crónicas de Ariana disse...

Realmente muito bom...

Cecília Longo disse...

belo texto que retrata um saber da minha beira.

Dizia uma figura ilustre que vivia no fundao que as gentes ali viviam do fogo de vista e dizia c graça " no fundao vestem q nem ricos e sao pobres em agueda vestem como pobres e sao ricos".

beijos

Cecília Longo disse...

mas que belas palavras.... e sobretudo que grande saber sobre as gentes das minhas terras.
um bom fim de semana

free emotions disse...

a verdadeira essência nunca se apaga.
bjs

Memória transparente disse...

Gostei da foto.

augustoM disse...

A diferença pode mesmo ser pequena, mas mesmo assim, ser é melhor do paracer.
Um abraço. Augusto

K'os disse...

quando verniz estala ... é como as aparências quando caem por terra ...

muito bom

:)

susana disse...

As coisas mudam, já nada é como era dantes.Será assim tão importante ser diferente ou estar em destaque. Uma coisa te digo, dá muito trabalho manter sempre o mesmo nível!

Momentos disse...

há muito que não se escreve por aqui. Que se passa? Preguiça? Falta de inspiração? ou o simples "descanso do Guerreiro"?

Bel disse...

Vao se os aneis ficam os dedos!
:)

Doces Momentos disse...

Adorei este texto.
Escreves com a alma.
Continua assim. Vou voltar.
Beijo doce

croqui disse...

muito bom! como sempre!

Anónimo disse...

Olá João! Passei para deixar um beijinho e um desejo de óptimo fim de semana.

BlueShell disse...

Um beijo, apenas...meu amigo!

Jinhos, BShell

Unknown disse...

escreves tao bem.. :)

Anónimo disse...

há textos para serem sentidos.
Parabéns.


Cl

Raquel Vasconcelos disse...

Excelentes recortes! (refiro-me a vários posts) Gostava de recortar a vida assim à tesourada, sem medo de correr o risco de não ser correcta...

Amita disse...

Olá Helder. Parafraseando "mudam-se os tempos e mudam-se as vontades". Nos tempos que correm é muito témue a diferença entre o ser e parecer, a olho nu.
Como sempre adorei ler-te.
Este nick é de outro blog meu. Não consigo entrar pelo branco-e-preto.
Um bjinho, Helder, e uma semana de sorrisos lindos

Rita Nery disse...

Não vou mentir, li todos os textos, mas confesso não conseguir comentar nenhum em particular...escolhi este ao acaso, ou talvez não...Identifico-me qm a tua maneira de escrever, talvez inveje a simplicidade das tuas palavras que não deixam de ser densas e de cumprir o seu objectivo.
Gostei, talvez a empatia se deva ao signo comum "librianos"!complicados, profundos, ams bonitos:)
Beijinhos

Paulo disse...

Há poetas assim: sem rosto firmado nos midea, sem aplausos de multidões, sem ribalta, sem "blef" mas com uma profundidade humana inexplicavel...

Curto, confesso!!!

Abraço

Paulo