02 novembro 2006

Dia de todos os linces

Ontem foi dia de os linces subirem ao monte para rezarem junto de quem nunca esquecem. Depois de ter almoçado com mais quatro linces, até soube bem olhar a Cova da Beira do alto do sossego, onde os seus habitantes nada dão apenas recebem. Sabe tão bem dar, em especial, a quem já só pode receber, mas tanto me deu e me continuará a dar com o seu exemplo sofrido de vida.

21 outubro 2006

Pneuma

O espírito do bem, essa força imaterial que desce tantas vezes sobre seres humanos insignificantes, como nós, é cada vez mais abocanhando pelo anti-pneuma do mal, da vaidade bacoca e sobretudo do ser nada, mas tudo querer parecer. Resta-nos resistir às investidas do anti-pneuma interessado em fazer do bem, o mal, e também em tornar o sábio, o mais ignorante dos aprendizes à face da terra. Benditos sejam os aprendizes. Ámen.

01 outubro 2006

De costas voltadas

De costas voltadas para o porto de chegada ou de partida. Depende da perspectiva de vida que nos faz sentar e olhar, serenamente, para o movimento das águas que agitam a nossa vivência íntima. Atitude que é espelho de uma vontade própria de perceber a rota dos barcos que navegam de acordo com escalas determinadas num porto bem perto de nós, onde as chegadas e as partidas da vida estão de costas voltadas... para o que der e vier.

14 setembro 2006

As es(his)tórias dessa Ponte Velha

Se essa ponte falasse dos sonhos, das vozes, dos murmúrios, dos negócios, dos mercadores que paravam nela para repousar e vender os seus tesouros, muito teria para contar. De certo estórias de encantar ou de abominar, a sorte é que a água corre insurrecta, sem disciplina exógena. A água lava e transforma as estórias mais tristes e humanas que os séculos vão gravando nas margens do rio, em especial, nas épocas de cheias que tudo arrasam, para mais tarde serenarem os ânimos dos mais ansiosos actores das histórias dessa Ponte Velha.

05 setembro 2006

Solstício(s) de Verão

Eis que entrei na toada das noites mais curtas deste Verão envolto numa onda inesperada de reconhecimento vinda daqueles que muito respeito, os estudantes que comigo trabalham. A sua força, as suas mensagens de agradecimento, os seus votos de felicidades para esta nova etapa da vida, todos comportam uma fonte de novo alento para um rápido recomeço que se revela decisivo e, simultaneamente, distinto dos anteriores. Não sou o mesmo, escrevo em vez de falar, escuto ao invés de ripostar e tenho tempo… muito tempo… para aprender com os restantes, aqueles que posso escolher para trazer junto ao coração, e também aqueles que, não obstante, não poder escolher, posso tolerar dentro dos limites da afectos que as noites curtas de verão nos ajudam a compreender, em especial, os amores efémeros.

23 agosto 2006

Longe do Céu

Numa das minhas recentes incursões por terras bávaras percebi melhor o significado das palavras: longe do céu. De facto, estar longe do céu, implica na maior parte das vezes, expormo-nos a provações, tais como, palmilhar caminhos desconhecidos, gerar novas amizades, ouvir línguas estranhas e aprender a respeitar culturas e sentires diferentes. No regresso a mudança é fundamental, porque conhecemos outra parte de nós próprios, por vezes adormecida, ou somente, assediada por desilusões pontuais. Longe do céu, mas próximo dos que, verdadeiramente, nos amam e, sobretudo, nos respeitam como pessoas que somos. Nunca irei esquecer a expressão das lágrimas contidas nos olhos do meu “mouro” amigo, ao conhecer o meu filho João Martim. Era Amor sincero e desinteressado, longe do céu, mas no seio da nossa Amizade, construída por gestos irreparáveis e por desculpas mudas que se tornam desnecessárias quando a Amizade perdura, mesmo longe do Céu.

20 agosto 2006

Coisas Simples...

Podia ter sido tudo tão diferente… bastavam para isso… coisas simples… o Sentir… o aroma de um beijo… a força de um abraço… a tristeza… a alegria… de um olhar… a força das expressões… o prazer das nossas conversas… durante mais uma noite… que passava… sem darmos conta… que se tornava cada vez mais curta… cada vez mais… uma necessidade… a vontade de passear… de mãos dadas… perseguidos pela lua… testemunha… e confidente… das nossas revelações… do nosso primeiro beijo… Agora… protegidos… de todas essas coisas simples… recordo o meu pai… a conversa começava sempre do mesmo modo… dizia serenamente… com o seu cigarro tranquilizante entre os dedos… já marcados pelo vicio… filho… não temas nunca o fim… um final… é quase sempre um prenuncio… de um principio… pode ser tudo tão diferente… bastam para isso… coisas simples…

13 agosto 2006

Para o Martim...

Tenho Paz... sem poder dizer que sou Feliz... mas conheço bem, um dos muitos trilhos para a Felicidade.

27 julho 2006

Sorriso...

A facilidade com que ris… sem que o sorriso… traduza a manifestação da felicidade... tantas vezes instantanea… na ternura do teu olhar… na tua expressão… a denuncia… a tua verdade… a minha certeza… num rosto… que não engana… tenta esconder somente… por detras de uma lágrima solitária… que cai inocente… por um caminho qualquer… incerto… mas… que não temes… Caída a lágrima… reposto o teu rosto… continuas com os passos… num ritmo… que é o teu… até aquela rua… onde está ainda hoje… a velha loja de café… que dizes transportar-te ao passado… apenas com o aroma intenso do café torrado… um cheiro caracteristico… sempre presente… nos nossos passeios… a pé pela baixa… no final da tarde… onde recordo tambem… o tipo que tocava… um instrumento… que ainda hoje desconheço… ao qual nunca dei atenção… a mesma… que faltou contigo… a mesma falta de atenção… que não me permitiu ver… nem sentir… a facilidade com que ris… sem que o teu sorriso… traduza a manifestação da felicidade… hoje… para mim… traduz-me… a recordação… traduz a saudade…

14 julho 2006

Crónica de um Lobo aspirante a Porco

Há de facto aqueles leitões que não o sendo nunca chegam a ser tão porcos, quanto alguns aspirantes a lobos que actuam em alcateia. A mordedura é colectiva e desprovida de coragem para levar um murro no focinho, um a um. As palavras têm a força que desejarmos imprimir à nossa profundidade de espírito. O verdadeiro lobo, aspirante eterno a porco, actua sozinho, sem morder nas costas do “amigo”, e mesmo com o peito aberto a sangrar de injustiças e ataduras propositadas, segue o seu trilho sem olhar à escumalha que o cospe, mas não o humilha. Na verdade, os verdadeiros porcos são humilháveis por tamanhas pequenezas, ao passo que os lobos olham de frente e, se não tiverem fome, não atacam, ignoram pura e simplesmente, e arrepiam caminho rumo à sua realização plena.

01 julho 2006

Ser Português

É ser artista na terra, olhar para o céu e agradecer o dom de sofrer até ao fim. Ser como somos apenas envergonha quem não tem capacidade para se afirmar, diariamente, de forma diferente, mesmo que isso implique incompreensão e até uma certa perseguição. Ser Português é ter coração de pobre e sorriso de Rei ou de Rainha. Vamos, certamente, continuar a sorrir no nosso trono coberto de pastéis de bacalhau e adocicado com pastéis de nata.

27 junho 2006

Aplausos...

Nunca dei importância a coisa nenhuma… as vitórias… os troféus… os sucessos consecutivos… alimentaram-me sempre… permitiram-me acreditar… que tinha tudo… todos… permitiram-me acreditar… na miserável independência… fizeram-me esquecer… tudo… todos… a própria Existência… as dificuldades… o valor do Sentimento… Criaram em mim… a fugaz necessidade da competição… tantas vezes sem adversário… tantas vez em lutas desiguais… Obcecado num final… que agora acredito… determinar… o meu próprio fim… Dependo do triunfo… para me alimentar… dos aplausos nos momentos das vitorias… que me mantêm Vivo… porque eu… porque a minha vida… depende do reconhecimento de todos… que agora… em tempo de derrota… se silenciam… discretamente… se ausentam… por momentos indefinidos… sem justificação… possivelmente… ate ao regresso da gloria… do triunfo… Hoje… reencontro-me… no desencontro com o caminho triunfal… derrotado por mim mesmo… reconheço na derrota… o encontro… do meu maior sucesso… as grandes lições… preciso de todos… e não tenho ninguém… nem mesmo uma expressão simples… que me possibilite a devolução de um sorriso à vida… sem a necessidade… de maquilhar as fragilidades… do ténue choro… de quem está Só…

24 junho 2006

Monólogos...

Nos meus monólogos… quase esquizofrénicos… no escuro do quarto… sem sons… nem luzes… apenas eu… embriagado… protegido de tudo... o que posso Ser… Sou… tudo… o que nunca fui… e não conheço em mim… questiono os limites da honestidade… a expressão e o valor da verdade… recordo a minha avó Mimi… sempre velha… conselheira… pautada pelo ritmo lento… de quem acredita na morte… mas não a espera… não a deseja… recordo os conselhos de um Pai… que partiu… sem que nunca tenha faltado… sem que nunca me tenha abandonado… o meu Pai… a minha avó… fecho os olhos… levanto a cabeça… na direcção do céu… marco um encontro… reencontro um canto… os encantos e a vontade de viver… ali estamos nós… conversamos… no nosso espaço… intimo… na minha esquizofrenia… nos meus monólogos… sem sons… nem luzes… no escuro do quarto…

11 junho 2006

Barrigadas perfumadas

E quando formos barrigudos? Diga-se de estômago e de vida. Quando estivermos fartos das comezainas que a vida, essa madrasta, nos vai oferecendo. Aquelas intoxicações de fim-de-semana onde notamos que tudo à nossa volta mudou. Os cognomes mantiveram-se mas os hábitos e os pratos mais típicos fizeram das suas, pois provocaram diversos transtornos que não se ultrapassam facilmente com sais de fruto. É chá, meus caros, a cura para as nossas maleitas e barrigadas. Para tanto enfartamento só umas boas semanas de dieta podem disfarçar o perfume forte do caril materialista das nossas prazenteiras vidas. É caso para pensar, muita braguilha e nenhuma partilha.

30 maio 2006

Poeta de rua

O poeta da minha rua chamava-se Elias, vestia de linho preto tingido na Ponte do Rato e balouçava ao vento o cachimbo por entre as apostas jogadas nas arcadas do Pelourinho. Tempos idos de riqueza gasta em mulheres fáceis e em jogo no clube de empresários. A pose manteve-se até ao dia em que também os operários começaram a subir ao Pelourinho, todos os sábados, para as compras na Praça, usando as suas viaturas compradas por empréstimo. Aí o verniz estalou, o proletariado ultrapassou o mestre, pois apesar de não calçar um sapato de verniz, nem tão pouco vestir um fato de linho acabado de passar, já galgava os paralelos, em veículos elegantemente calçados. A diferença entre o ser e o parecer tornou-se ténue e apagou da memória a figura ilustre do poeta Elias que, em silêncio, continua a cantarolar as árias dos tempos idos sobre as memórias inapagáveis da burguesia falida da cidade lã.

29 maio 2006

Putos...

Os putos que vi correr… com roupas simples… alguns, apenas com calções… com a cor gasta pelo tempo… contrastando com a pele escura dos corpos… outros… descalços… com os pés sujos… pisando a terra… com as suas brincadeiras… apagando as marcas… das rodas… da velha… e barulhenta camioneta… que circula ocasionalmente… naquele trajecto… buzinando insistentemente… para que se afastem… daquele caminho… que também é deles… Eles correm… sem ordem… mas com destino… são putos… são crianças… correm e acreditam… reencontro essa crença… na expressão… no olhar… no sorriso… que carregam… com o peso da espontaneidade… durante mais uma corrida… Eles querem alcançar aquela camioneta… hoje… amanha... um dia qualquer… um dia que chegará… É a velha camioneta… que transporta os sonhos… que lhes devolve a crença… que as distancias… são curtas… e que os sonhos… mesmo os melhores… podem tornar-se realidade… Foram estes os putos que vi correr… com roupas simples… alguns, apenas com calções… com a cor gasta pelo tempo… contrastando com a pele escura dos corpos… outros… descalços… com os pés sujos… pisando a terra… com as suas brincadeiras…

25 maio 2006

Umbigo da vizinha

O egocentrismo de algumas crianças, grandes e pequenas, tem dado lugar, progressivamente, a um confortável glamour alimentado pela admiração do umbigo da vizinha. A criatura vizinha é sempre pior do que eu e tem todos os defeitos, inclusive, os próprios e os da vizinha. Tudo isto encerra um desejo edificado de ser mais apetecível do que a vizinha. Todavia, sobra coragem e falta imaginação, para ir além do umbigo e encarar a vizinha, não como um auto-retrato directo, dado o altruísmo e o ângulo de visão requerido por este medonho exercício, mas sim como uma simples criança inacabada. É tempo de jogar a macaca e com isto perfazer um exercício íntimo de auto-conhecimento para depois, só depois, estender as duas mãos e escalar, com firmeza, o umbigo da vizinha que tanto nos admira.

23 maio 2006

Tempo...


Obedeceste ao tempo… um tempo… que corre… não pára… não espera… Envelheceste… aceitaste cada forma… cada traço… desenhado num corpo… que não reconheces… mas que transportas… denunciando a passagem… denunciando o próprio tempo… as historias… as mágoas… e as alegrias… os fracassos… e os sucessos… toda a experiência... ainda activa… com a pouca força que te resta… Serenamente acomodado… na cadeira que baloiça… que te oferece movimento… suportada pelo chão que pisas… hoje… com passos mais curtos… mais pausados… do que aqueles… que relatas… nas tuas historias… nos teus contos… já com a voz cansada… com um olhar profundo… sobre a planície… agora contemplada… com tempo… o tempo que faltou no passado… o tempo… que parece sobrar no presente… uma lembrança do próprio tempo… um tempo… que corre… não pára… não espera… envelhece…

19 maio 2006

Sandwich da vida

A vida quotidiana assenta em várias camadas. A inexperiência, a falta de confiança, o primeiro amigo, o primeiro namoro, os primeiros pontapés, enfim as primeiras camadas. Depois recriamos a natureza fácil das sandes rápidas, mais conhecidas por sandwiches, com vários molhos e combinações de novas sensações experimentadas na doçura e na agrura dos momentos efémeros vividos a dois. Mas as sandwiches da vida não são fruto de receitas acabadas, pois carecem de muita experimentação e de refinamento das camadas e dos seus verdadeiros ingredientes, a saber: amor (qb), crer (qb), confiança (na medida certa) e maturidade… muita maturidade, que é o que nos falta, até ao tal dia, em que iniciaremos outra viagem a bordo de uma nuvem perdida em busca da incerta e gostosa sandwich da vida.

17 maio 2006

Reinventar Historias...

Reinvento historias… pedaços de mim… como se quisesse… e pudesse… remodelar o passado… recordo tempos… recordo momentos… passados… contigo… com tanta gente… nalguns, apenas Eu… noutros… sem ninguém… exclusivamente sob o abrigo da lua… e de uma sombra… que acredito… ou desejo… ser minha… reflectida no chão que piso… mas que não encaro… numa noite… que me acompanha… mas não me protege… acompanhado também pelos medos… de quem se entrega… à beleza de um luar… vagueio… junto a uma estrada deserta… assistindo à passagem esporádica… dos carros… com destino… o destino que me falta neste instante… são passagens súbitas… como tantas outras… na vida… nas nossas vidas… A luz da casa por onde passo… desliga-se… chama-me à atenção… já é tarde… olho para a minha janela… a lua cede o espaço… o mesmo que a minha imaginação… cede ao cansaço… fecho os olhos… com a certeza que amanha retomarei a noite deserta… recomeço… a reinvenção das minhas historias…

15 maio 2006

Branco e Preto

Há animais que conseguem, felizmente, visionar o mundo a duas cores, ou seja, a branco e a preto. São duas tonalidades, o branco e o preto, que se podem combinar e gerar amigos. Mas separadas por idades, religiões, valores e credos, sendo fiéis aos valores da amizade e da fraternidade. Aos olhos de alguns seres, o que torna incompreensível a relação de amizade é a diferença de idades e, sobretudo, os ambientes sociais coloridos que dizem respeito ao branco e preto. Espirram para dentro, que mundo trocado em que vivemos, o branco veio de baixo, rangeu os dentes e empurrou para cima. De dentro para fora, vindo do seu interior mais íntimo, marcado pela infância feliz de ser filho de operários. O preto teve uma educação acompanhada por pais criteriosos, interessados e acima de tudo humanos. Aliás característica que não abunda nos dias que correm. Enfim eis que o branco e preto decidiram fundir-se numa amizade indestrutível, apesar das diferenças e da reprovação social que não compreende que para dois seres humanos serem, verdadeiramente, amigos, basta aprender… todos os dias… a escutar o outro, mesmo que esteja bem longe dos nossos olhos e, independentemente, das idades e das tonalidades combinadas.

14 maio 2006

Passos Perdidos...


Como tantas pessoas… que se encontram… e desencontram… escolhemos caminhos diferentes… optei pela serenidade das serras… pelo verde dos campos… a minha fronteira… para o encontro com a paz… e a realização dos sonhos que esboço… tu… na firme posse da racionalidade… do método… aplicado a qualquer banalidade… preferes a confusão da cidade… a turbulência das praias… nos dias de verão… a agitação dos passos perdidos… das pessoas que encontras… reencontras… e perdes… nas ruas e nas avenidas… caminhando de um lado, para o outro… ou simplesmente… movimentando-se… numa tentativa… entre tantas outras… para abandonar… a alma asfixiada… presa a um corpo insignificante… mas… para ti… importante. Como tantas pessoas… que se encontram… e desencontram… escolhemos caminhos diferentes… cruzámo-nos… e num invulgar momento… de alivio da alma… descobrimos em cada um de nós… a tranquilidade do desassossego do Amor… vivemo-lo no tempo… e na memória… com a importância que atribuímos a cada detalhe… Despreocupados com o tempo… reencontramos os passos… seguimos os nossos caminhos… que se encontram… que se desencontram… mantendo o desejo que se cruzem novamente…

11 maio 2006

Ciclo...


Sentado sob as pedras da montanha… num espaço em que estou só… dou vida aos sonhos… repouso a realidade… elimino os medos… observo e sinto… os elementos da natureza… as cores… os aromas… os movimentos… os significados… as historias que têm escondidos… ou que apenas… não vejo… e penso não existirem… como eu… que existo… mas que nada revelo de mim… entre as inúmeras historias… que conto… nos meus contos… nos nossos diálogos… com precaução… sem nunca revelar… os meus segredos… sem nunca revelar… a minha historia… deixará de o ser… quando o fizer… Descubro o verde dos campos… o porquê do céu azul… o amarelo das mimosas… que balançam com a brisa quente que o verão nos faz sentir… e ate o aspecto alaranjado do sol… quando inicia o ciclo do seu fim… diante da montanha onde estou sentado… Aproprio-me da força dos elementos… da capacidade da natureza… prevenida para o inicio… mas também… para um fim… ao contrario de mim… de quase todos nós… crentes… ou não crentes… mas desejosos… da posse de uma vida eterna… com fama… e com a gloria… de quem é resistente e é capaz… de sobreviver à luta nos combates… contra a força dos elementos… da natureza…

08 maio 2006

Lágrima furtiva

A certeza de que me sentes ainda hoje faz com que escreva sobre a força dos teus actos. A tua alma dita, diariamente, a maior mensagem de humildade e de trabalho que sempre me transmitiste no teu exemplo de vida. A renúncia ao luxo e ao supérfluo pelo meu crescimento como ser humano fez com que seja reservado e perseverante. A minha educação fez-se com muitos gestos e poucas palavras. Um olhar de desaprovação valeu por mil açoites… foi assim que me abanaste e me fizeste acreditar no que sou… um filho saudoso, mas educado para acreditar que viver é também recomeçar… todos os dias, com fé, e acreditar que amanhã serei melhor como Homem. Para ti Mãe, flores e uma lágrima furtiva…

01 maio 2006

Beijar de Fé

Caminho pé ante pé,
creio na tua vida de amor,
porque sou um homem de fé,
que iluminas com o teu esplendor.

Na tua bondade,
aliada à tua pura inocência,
existe uma profunda vontade,
revelada na tua vivência.

No teu beijar,
reside uma mensagem de fé,
um legado para amar
e caminhar ao teu lado sempre de pé.

27 abril 2006

Lições...

Falámos sempre sobre tudo… bem, na verdade… sobre quase tudo… mesmo sobre coisas sem importância nenhuma… como a nossa ultima conversa… a minha adolescência… dificultava a abordagem de alguns temas contigo… preferia discuti-los com os meus amigos… afinal tinham todos aproximadamente a minha idade… no entanto… tu… persistente… sem embaraço… e determinado… com vontade de ensinar… e compromisso… enchias os pulmões com ar… e falavas… falavas comigo… falavas para mim… sobre tudo… bem, na verdade… sobre quase tudo… eu… apesar do meu silencio… escutava-te… escutava-te com toda a atenção… a mesma atenção que me permitiu entender a mais dura das lições… sem palavras… sem dialogo… já sem o som da tua voz… Só… com um adeus imprevisto… numa despedida individual… e solitária… num acto que se resume… à tua partida… Deixaste preenchido o espaço da ausência… e agora… na companhia da solidão… mesmo quando guardado pela mais vasta multidão… compreendo… a intensa lição… a tua explicação concreta… da Saudade…

25 abril 2006

Chama da amizade

Para alguns seres errantes, a amizade é sinónimo de cobrança interessada, cuja galopada não pára de cessar. A principal desilusão surge quando a máscara de bondade desinteressada cai, para dar lugar à entrada em cena de uma personagem vil, interesseira e vampírica, a qual sangra os amigos para continuar a viver de forma acomodada. O verdadeiro amigo questiona e está presente quando mais necessitas, não te explora, nem sequer te faz propostas que desvendam a personalidade assente na subjugação por teia de interesses. A verdadeira amizade constrói-se e perdura, sempre que há uma interlocução, aberta, sincera e, sobretudo, directa. Os verdadeiros amigos não se utilizam uns aos outros, desculpam-se pelas falhas e omissões, batem forte quando é necessário, mas também nos fazem crescer como simples homens e mulheres, que, realmente, somos. Nos dias que correm, é tão bom ter pelo menos um amigo! Preservá-lo é que é cada vez mais difícil, tal é o tamanho da teia de interesses e das invejas que sopram sobre a chama da amizade.

24 abril 2006

(in)felicidade...

"A ressaca ainda me acompanha hoje,
Ontem e ontem e ontem
E espero que nunca mais…
O sentimento que se apoderou de mim,
Volte a assombrar o meu eu.
Tu és a razão da minha felicidade,
Dás-me tudo!
Tu és a razão da minha infelicidade,
Tiras-me tudo!!
És prazer, és dor…
A força do meu eu é mais forte
Do que os teus eu's!
Continuo a destruir alguns deles…
E vou continuar…
Quero-te só para mim!"

21 abril 2006

Seiva das árvores

Desde petiz que as árvores, essas criaturas que vagueiam por entre as ruas mais esburacadas da nossa odisseia urbana, me intrigam. De que seiva será feita a criatura que, germina, a cada primavera de vida? A seiva que faz rebentar em cada primavera, o melhor fruto interior que há em nós, na consciência de plena renovação. A lição mais singela é fazer rebentar, todos os dias, os melhores pensamentos e dar ao próximo o melhor que temos, mesmo que para isso seja necessário… um dia… morrer de pé… como as árvores, essas criaturas que fazem sombra nos recônditos jardins por nós ajardinados, todos os dias.

20 abril 2006

Sinais...

Procurei… vestígios de mim… em ti… sem encontrar… sinais de mim… achei… um outro eu… não eu… mas alguém… que desconheço… provavelmente nem tu conhecerás… um alguém… que percorre ainda… caminhos que também eu percorri… com destino… mas sem fim… um alguém… que sofrerá com o tempo… um outro tempo que virá… sem que ainda não tenha passado… nem futuro contigo… Com o imprevisto… e a agitação… do amor… da paixão… da confusão… que também eu sofri… um alguém… desprevenido… contemplado ainda com o sentimento… e a dor… por ti… por mim… por qualquer um… a quem o sentimento ordene… Cúmplices… no amor… na escassez do tempo que resta… imune… à dor… no desfecho… do caminho do amor…

19 abril 2006

Primeiro'Adeus

Primeiro'Adeus veio dos teus olhos tristes.

Assisti impotente ao consumo lento das tuas faculdades.

Depois de te entregares à morte, após a nossa pequena vitória.

Eterno será o nosso amor.

Um dia reencontrar-te-ei.

Seremos dois cúmplices atraiçoados, outrora, pela vida efémera.

14 abril 2006

Reflexos...

Com um olhar distante… mas atento… alcançamos a lua… ela devolvia-nos a tranquilidade… a proximidade... perdida na terra… inventada no espaço… no mesmo espaço, onde decidimos criar uma estrela… uma estrela pequenina… mas brilhante… só nossa… e nela habitar… longe de tudo… de todos… dos olhares… do movimento… da competição… dos medos… Aquela estrela… pequena… mas a mais brilhante… era afinal o reflexo do amor… o nosso ponto comum… de um lado eu… adiantado na hora e na ânsia… esperando a tua chegada… do outro… tu… caminhando até mim…

12 abril 2006

Contos...

Não havia contador de histórias como tu… os teus problemas eram convertidos em pequenas fábulas… em contos… ninguém superava o teu entusiasmo… expressavas com vivacidade cada momento empolgante na tua historia… criavas e prolongavas o mistério… Todos sabíamos que eram episódios da tua vida… as historias que recriavas… as historias que contavas… tinhas uma versão diferente para cada um de nós… eu deliciava-me com todas elas… escutava-as atentamente… deixava-te falar… deixava-te recriar… como um artista, nos seus momentos de evasão… apresentando a obra que reflecte a sua visão…

08 abril 2006

Desfeita a ordem…

Desfeita a ordem… pelos nossos movimentos… na confusão dos lençóis… ainda com o perfume do teu corpo… agora ausente… presente, na memoria… gozo os instantes de felicidade… curtos… solitários... egoístas… reconquisto a força… para a companhia da solidão… E distante de tudo… sem dor nem pudor… apareces… desapareces… reapareces… indiferente… como quem não sente… como se também eu não sentisse… E indiferente ao sentimento… ensaio… o esquecimento… devolvo a ordem… aos lençóis… enquanto o teu perfume… desaparece…

06 abril 2006

Sob um olhar atento do publico…

Sob um olhar atento do publico… que te aclama… representas a tua arte… limitada no tempo… pela beleza… que se esgotará. Reforças as frágeis estacas da fama… e da gloria… ficas atenta exclusivamente ao levantar do pano… para que possas entrar no palco… e representar… aguardas o final da actuação… para soar a habitual ovação que te consagra… que te alimenta. O tempo passa… não pára… não espera por ti… envelhece-te… torna-te frágil… e mais dependente… O teu publico já não te reconhece… agora na perfeição dos teus movimentos… ainda mais elegantes… sob um olhar desatento do publico… o pano cai… sais de cena… sem que ninguém… nem o teu publico… tenha notado…

03 abril 2006

Mutação...


Imutável nos devaneios de quem sonha e acredita… em serras e em campos… com ribeiras de água límpida… nas flores… ilustradas num qualquer quadro de um pintor famoso… acompanhadas pela sonoridade da composição dos sinais… de um compositor, suficientemente louco, mas brilhante… porque também ele… acredita e vive o sonho… transportando-o na sua arte… para a vida… dita real… Onde a vivência do sonho… não é mais do que a manifestação da demência…

30 março 2006

Pessoas... como nós...

Lembras-te das ruas repletas de gente? Éramos somente mais dois... entre tantos outros… e tantas vezes, entre tanta gente, encontrávamos pessoas verdadeiramente sós… pisavam o chão de uma maneira diferente, da maioria das pessoas… também eles são pessoas, como nós… viviam as ruas de uma forma tão distinta… e distante… Eu olhava-os frontalmente… tentei algumas vezes conforta-los… com um sorriso, um aceno, um afecto, uma manifestação qualquer… com a atenção que perderam, juntamente com a possibilidade de partilharem as suas historias… eram esses gestos, pequenos, mas carregados de significado, que lhes devolviam a esperança… são estes pequenos gestos, que os reanimam… são estes pequenos gestos, que permitem sobreviver… são estes pequenos gestos, que devolvem a dignidade perdida no tempo… também eles, são como nós… pessoas…

27 março 2006

Olhares...


Na distância do olhar, recordo atentamente as nossas conversas… sobre tudo e sobre o nada… por vezes, sobre assuntos que nem sei bem o que dizer… mas… na tua companhia… transporto a memoria, a imaginação… e lá vou eu falando… obedecendo ao lema, que “quem conta um conto, acrescenta sempre um ponto”… uma desculpa fácil para nos ouvirmos e mantermos a proximidade…

Espaço...


Um canto que criámos,
No silêncio do dia…
Um canto secreto,
Dissimulado em sonho…

Nem todo o sonho
É para ser vivido,
Para que o sentido da Vida,
Não seja perdido…

26 março 2006

Sinopse...


Ignorando o silêncio,
E atento ao desejo,
À vontade de amar,
O amor transfigura,
O silencio solitário nas raízes do medo…

Secretamente,
Num momento íntimo mas seguro,
Onde simplesmente,
Desprotegidos,
Submersos na vontade de amar,
O amor se figura,
Num desejo proibido…

25 março 2006

Abrigo...

Viagens,
Praias desconhecidas,
Permitem a vida,
O tempo do amor...

Porto de abrigo,
De um sonho,
O nosso sonho,
Ou apenas um sonho.
O meu sonho…

24 março 2006

...


"Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe."
Oscar Wilde

23 março 2006

Passos...


Nos passos perdidos,
Transporto memórias,
Que auxiliam a construção do futuro...

19 março 2006

Para ti P.

Dos sussurros ao ouvido,
Confessando-te a tua importância,
Da expressão da felicidade,
Manifestada no brilho dos teus olhos…
Permanece a saudade...

13 março 2006

Acordei a pensar em ti...

Não soube dar o que tanto me dizes querer de mim
Peço-te desculpa por isso!
Tens um espaço enorme na minha vida, no meu coração
Hoje acordei a pensar em ti e logo a seguir,
ja sem nada na cabeça, pensei:
Tenho tanto orgulho em ti...
Pela beleza que transportas,
Pela inteligência que demonstras,
Pelo que és com simplicidade...
Tudo em ti fica bem sem esforço...
Era tudo isto, é tudo isto, será sempre tudo isto,
que penso e guardo de ti!
Não tenho mais nada para te oferecer além deste sentimento...
Infeliz de mim não conseguir alongá-los!
Gostei de te conhecer...
Tenho orgulho em ti!

28 fevereiro 2006

25 fevereiro 2006

Margem da Ausência...

"Tu és a alegria primordial, a liberdade absoluta, que eu não aguento longe de mim, noutros cenários, noutros convívios, dando a alguém que não eu a vida inteira o afecto que de ti transbordam.
Sei que este amor é excessivo e devia poder controlá-lo (ninguém esgota ninguém), que posso eu contra o facto de tu viveres sempre o presente e estares bem onde estás, com quem estás, na mais inocente das relações ou, quem sabe, na mais subitamente intensa?!
Simplesmente sofro. Um dia acordarei talvez de olhos secos e frios e dir-me-ei: “Consigo viver por mim e sorrir mesmo sem ti e olhar a vida como um jardim ligeiro, onde há plantas e flores voltadas para mim. Conseguirei? Pouco mais vejo no ecrã do mundo que não sejas tu ou as coisas que tu vês e que eu quero só para ti.
(…)
Agora dirás talvez a outro as palavras que nunca me disseste. As caricaturas humanas transformaram-se, ou mudam de repente, e tu és tão imediata, inteira e radical nos teus gestos que de um momento para o outro podes alterar a rota. Ou não? Eu serei aquele que está certo, seguro, lá longe (aqui ao pé do mar), enquanto a vida nova e excitante fluí ao teu lado, ou nem isso: serei apenas aquele que findou, o tempo sobre o qual cai o pano. Estou decerto exagerando, rente ao masoquismo. Eu sei que não consigo, neste desterro por nos escolhido, imaginar-te, a chama que tu és, dando ao desbarato sorrisos, superlativos, movimentos e palavras quentes, a outros amigos, presa noutros afazeres e noutros ócios, noutra existência, tu que tão depressa e desprevenidamente te afeiçoas e inventas as pessoas, tu que és ao mesmo tempo grito, solidariedade, indignação, carinho e desprendimento…"
Margem da Ausência

23 fevereiro 2006

Anónimo...

"Tenho guardado na memória e no coração,
Cada olhar brilhante que trocamos,
Cada sorriso feliz que sorrimos...
Cada aperto de mão que nós demos...
Cada mensagem enviada,
Cada palavra dita...
Cada lágrima de alegria chorada
E cada música ouvida
E cada conversa que tivemos
Dentro da amizade, cumplicidade
E afinidades tão grandes...
Seria uma emoção de invadir o coração...
Saber que guardas na tua memória...
Que eu te amei, que te amo, e que te amarei...
Pois não ha distância que afaste um grande amor...
Nem tempo que faça esquece-lo...
Nem barreiras que não sejam vencidas por Deus...
Mesmo que hoje não consigas ver que és especial...
TU és muito especial para mim..."
Anónimo

19 fevereiro 2006

“Para tão longo amor, tão curta a vida…”

Refugiei-me tantas vezes nesta folha branca, da era digital, onde escrevi em tons de desabafo, entornando os meus medos, os meus sentimentos, criando dedicatórias e historias, algumas verdadeiras, outras ilusórias…
Na escrita, pelo prazer que me devolve, uso a criação, tentando que distorça a verdade, aludindo as minhas histórias… histórias que poderiam ser de outro Ser qualquer…
No Ditos & Contos, conheci um outro lado da condição do Ser, do Estar, manifestações expressas de ternura, de gente que nunca vi, com quem nunca falei, gente a quem nunca ofereci rigorosamente nada, nem nunca prestei ajuda nem atenção… esta gente existe… alguma gente desta “estacionou” no Ditos & Contos…
Pensei muitas vezes, escrever palavras de agradecimento, carinho, afecto, para todos aqueles que aqui pararam e para todos aqueles que me faziam (mesmo sem saber), correr para o e-mail à procura de mais uma mensagem…
Aqui estou eu… a escrever… anunciando uma despedida, não da escrita, porque não seria capaz de abandonar este prazer, mas… de todos aqueles que, mesmo sem me conhecerem, me incentivavam com as suas visitas…
“Para tão longo amor, tão curta a vida…”, numa alusão ao amor, à vida, aos instantes que cada um de nós deixa passar… Imagino que fosse esta a manifestação, a verdadeira intenção de Fernando Pessoa, no momento deste registo…

09 fevereiro 2006

Partida...


A tua partida,
Ensinou-me a vencer o medo…
A compreender
O significado da saudade…

Ensinou-me a chorar…
A conquistar força para caminhar…
A decifrar a dor…

A tua partida,
Permite-me compreender,
A ignorância do sentimento,
De quem não sentiu ainda a partida…
De quem não sentiu ainda a dor…

A tua partida,
Faz de mim um Ser forte…
Que cresce com dor,
Uma dor maquilhada,
Na arma do rosto…