27 abril 2006

Lições...

Falámos sempre sobre tudo… bem, na verdade… sobre quase tudo… mesmo sobre coisas sem importância nenhuma… como a nossa ultima conversa… a minha adolescência… dificultava a abordagem de alguns temas contigo… preferia discuti-los com os meus amigos… afinal tinham todos aproximadamente a minha idade… no entanto… tu… persistente… sem embaraço… e determinado… com vontade de ensinar… e compromisso… enchias os pulmões com ar… e falavas… falavas comigo… falavas para mim… sobre tudo… bem, na verdade… sobre quase tudo… eu… apesar do meu silencio… escutava-te… escutava-te com toda a atenção… a mesma atenção que me permitiu entender a mais dura das lições… sem palavras… sem dialogo… já sem o som da tua voz… Só… com um adeus imprevisto… numa despedida individual… e solitária… num acto que se resume… à tua partida… Deixaste preenchido o espaço da ausência… e agora… na companhia da solidão… mesmo quando guardado pela mais vasta multidão… compreendo… a intensa lição… a tua explicação concreta… da Saudade…

25 abril 2006

Chama da amizade

Para alguns seres errantes, a amizade é sinónimo de cobrança interessada, cuja galopada não pára de cessar. A principal desilusão surge quando a máscara de bondade desinteressada cai, para dar lugar à entrada em cena de uma personagem vil, interesseira e vampírica, a qual sangra os amigos para continuar a viver de forma acomodada. O verdadeiro amigo questiona e está presente quando mais necessitas, não te explora, nem sequer te faz propostas que desvendam a personalidade assente na subjugação por teia de interesses. A verdadeira amizade constrói-se e perdura, sempre que há uma interlocução, aberta, sincera e, sobretudo, directa. Os verdadeiros amigos não se utilizam uns aos outros, desculpam-se pelas falhas e omissões, batem forte quando é necessário, mas também nos fazem crescer como simples homens e mulheres, que, realmente, somos. Nos dias que correm, é tão bom ter pelo menos um amigo! Preservá-lo é que é cada vez mais difícil, tal é o tamanho da teia de interesses e das invejas que sopram sobre a chama da amizade.

24 abril 2006

(in)felicidade...

"A ressaca ainda me acompanha hoje,
Ontem e ontem e ontem
E espero que nunca mais…
O sentimento que se apoderou de mim,
Volte a assombrar o meu eu.
Tu és a razão da minha felicidade,
Dás-me tudo!
Tu és a razão da minha infelicidade,
Tiras-me tudo!!
És prazer, és dor…
A força do meu eu é mais forte
Do que os teus eu's!
Continuo a destruir alguns deles…
E vou continuar…
Quero-te só para mim!"

21 abril 2006

Seiva das árvores

Desde petiz que as árvores, essas criaturas que vagueiam por entre as ruas mais esburacadas da nossa odisseia urbana, me intrigam. De que seiva será feita a criatura que, germina, a cada primavera de vida? A seiva que faz rebentar em cada primavera, o melhor fruto interior que há em nós, na consciência de plena renovação. A lição mais singela é fazer rebentar, todos os dias, os melhores pensamentos e dar ao próximo o melhor que temos, mesmo que para isso seja necessário… um dia… morrer de pé… como as árvores, essas criaturas que fazem sombra nos recônditos jardins por nós ajardinados, todos os dias.

20 abril 2006

Sinais...

Procurei… vestígios de mim… em ti… sem encontrar… sinais de mim… achei… um outro eu… não eu… mas alguém… que desconheço… provavelmente nem tu conhecerás… um alguém… que percorre ainda… caminhos que também eu percorri… com destino… mas sem fim… um alguém… que sofrerá com o tempo… um outro tempo que virá… sem que ainda não tenha passado… nem futuro contigo… Com o imprevisto… e a agitação… do amor… da paixão… da confusão… que também eu sofri… um alguém… desprevenido… contemplado ainda com o sentimento… e a dor… por ti… por mim… por qualquer um… a quem o sentimento ordene… Cúmplices… no amor… na escassez do tempo que resta… imune… à dor… no desfecho… do caminho do amor…

19 abril 2006

Primeiro'Adeus

Primeiro'Adeus veio dos teus olhos tristes.

Assisti impotente ao consumo lento das tuas faculdades.

Depois de te entregares à morte, após a nossa pequena vitória.

Eterno será o nosso amor.

Um dia reencontrar-te-ei.

Seremos dois cúmplices atraiçoados, outrora, pela vida efémera.

14 abril 2006

Reflexos...

Com um olhar distante… mas atento… alcançamos a lua… ela devolvia-nos a tranquilidade… a proximidade... perdida na terra… inventada no espaço… no mesmo espaço, onde decidimos criar uma estrela… uma estrela pequenina… mas brilhante… só nossa… e nela habitar… longe de tudo… de todos… dos olhares… do movimento… da competição… dos medos… Aquela estrela… pequena… mas a mais brilhante… era afinal o reflexo do amor… o nosso ponto comum… de um lado eu… adiantado na hora e na ânsia… esperando a tua chegada… do outro… tu… caminhando até mim…

12 abril 2006

Contos...

Não havia contador de histórias como tu… os teus problemas eram convertidos em pequenas fábulas… em contos… ninguém superava o teu entusiasmo… expressavas com vivacidade cada momento empolgante na tua historia… criavas e prolongavas o mistério… Todos sabíamos que eram episódios da tua vida… as historias que recriavas… as historias que contavas… tinhas uma versão diferente para cada um de nós… eu deliciava-me com todas elas… escutava-as atentamente… deixava-te falar… deixava-te recriar… como um artista, nos seus momentos de evasão… apresentando a obra que reflecte a sua visão…

08 abril 2006

Desfeita a ordem…

Desfeita a ordem… pelos nossos movimentos… na confusão dos lençóis… ainda com o perfume do teu corpo… agora ausente… presente, na memoria… gozo os instantes de felicidade… curtos… solitários... egoístas… reconquisto a força… para a companhia da solidão… E distante de tudo… sem dor nem pudor… apareces… desapareces… reapareces… indiferente… como quem não sente… como se também eu não sentisse… E indiferente ao sentimento… ensaio… o esquecimento… devolvo a ordem… aos lençóis… enquanto o teu perfume… desaparece…

06 abril 2006

Sob um olhar atento do publico…

Sob um olhar atento do publico… que te aclama… representas a tua arte… limitada no tempo… pela beleza… que se esgotará. Reforças as frágeis estacas da fama… e da gloria… ficas atenta exclusivamente ao levantar do pano… para que possas entrar no palco… e representar… aguardas o final da actuação… para soar a habitual ovação que te consagra… que te alimenta. O tempo passa… não pára… não espera por ti… envelhece-te… torna-te frágil… e mais dependente… O teu publico já não te reconhece… agora na perfeição dos teus movimentos… ainda mais elegantes… sob um olhar desatento do publico… o pano cai… sais de cena… sem que ninguém… nem o teu publico… tenha notado…

03 abril 2006

Mutação...


Imutável nos devaneios de quem sonha e acredita… em serras e em campos… com ribeiras de água límpida… nas flores… ilustradas num qualquer quadro de um pintor famoso… acompanhadas pela sonoridade da composição dos sinais… de um compositor, suficientemente louco, mas brilhante… porque também ele… acredita e vive o sonho… transportando-o na sua arte… para a vida… dita real… Onde a vivência do sonho… não é mais do que a manifestação da demência…