27 abril 2006

Lições...

Falámos sempre sobre tudo… bem, na verdade… sobre quase tudo… mesmo sobre coisas sem importância nenhuma… como a nossa ultima conversa… a minha adolescência… dificultava a abordagem de alguns temas contigo… preferia discuti-los com os meus amigos… afinal tinham todos aproximadamente a minha idade… no entanto… tu… persistente… sem embaraço… e determinado… com vontade de ensinar… e compromisso… enchias os pulmões com ar… e falavas… falavas comigo… falavas para mim… sobre tudo… bem, na verdade… sobre quase tudo… eu… apesar do meu silencio… escutava-te… escutava-te com toda a atenção… a mesma atenção que me permitiu entender a mais dura das lições… sem palavras… sem dialogo… já sem o som da tua voz… Só… com um adeus imprevisto… numa despedida individual… e solitária… num acto que se resume… à tua partida… Deixaste preenchido o espaço da ausência… e agora… na companhia da solidão… mesmo quando guardado pela mais vasta multidão… compreendo… a intensa lição… a tua explicação concreta… da Saudade…

6 comentários:

Anónimo disse...

A saudade que tantas e tantas vezes se repete... Essa mesma saudade que tantas outras nos invade sem pedir licença... Uma saudade que nem sempre se atenua como tempo... Saudade!

Anónimo disse...

Lindo texto :)
A saudade...é como a água das fontes...nada a consegue secar...
Beijo enorme.

Sílvia Dias disse...

Amor o teu texto está lindo e esteja onde estiver, ele está a ver-te e está sempre contigo...

Anónimo disse...

Muitos muitos parabéns pela transmição do programas, pela escolha do convidado, pela escolha dos textos, não esquecendo as musicas.

Anónimo disse...

Espectacular!

A sensibilidade, o sentimento com que escreve...

A sua saudade de quem ja partiu e que ajudou a conceber o mais lindo Ser!

Rouxinol

RB disse...

"O vazio tocou ao de leve, escalou pela perna e instalou-se. Estreia-se velozmente, desampara, desabriga, desprotege e perdura vagarosamente.
A dor acompanha a jornada que se adivinha tortuosa e desleal. Os dias passam morosamente, numa delonga, que lacera, que estraçalha.
O corpo fica miúdo e dormente, o que envolve perde o sentido, estranha o sabor, altera a cor. Uma nuvem constante partilha os pensamentos que por mais que vão, dobram.
A vontade de não permanecer, de não existir, de não querer saber, se avoluma.
O desespero espreita, a sanidade oscila e o desassossego comparece.
Um renascer promete atrasar, um esquecer afirma-se quimérico."
Pegadas 21.agosto.2006